BAÚ LITERÁRIO

Tratam-se de textos ( resumos de ensaios) que são publicados a cada 15 dias no suplemento literário da Academia Goiana de Letras ( encarte do jornal Diário da Manhã de Goiânia)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

FREUD ENUNCIA O COMPLEXO DE ÉDIPO

Como vimos no capítulo anterior, parece-nos que Freud, depois que se mudou para a sua casa-consultório na Berggasse 19, passou a viver somente em função do desenvolvimento da nova ciência que criara, a psicanálise.
Não estamos afirmando que ele se descuidava dos deveres para com os amigos e a família; pelo contrário, ele era muito amoroso com a esposa e principalmente com os filhos, como atesta esta carta que enviou ao amigo Fliess, a respeito da sua primeira filha Mathilde “... A vida vai em frente, quando nossa pequena Mathilde brinca, nós pensamos que isto é a coisa mais maravilhosa que poderia acontecer para nós – maio de 1888”; e, na fotografia feita no jardim da sua casa em 1898, aparece Freud, sua esposa Martha, sua cunhada Mirna (que mais tarde passaria a morar com eles), e mais cinco filhos (Sigmund Freud- His Life in Pictures, André Deutsch, 1978, London).
Vejo a cidade de Viena, disse ele por esta época, “com os olhos de um pintor: objeto de pura visão, mais eis que se eleva o vento noturno e o terrível segredo que se esconde sob a imagem visual, pulsa a vida”.
Seu consultório, em aparente desalinho, como afirmamos anteriormente, é consentâneo com as suas idéias, pois, as figuras mitológicas e as advindas de escavações de ruínas arqueológicas, espalhadas por todos os cantos, consubstanciam uma das metáforas preferidas de Freud: “o psicanalista vai clareando o caminho, analisando camada por camada, todo o material psicológico e patogênico, similar com o que acontece com as técnicas de escavações de ruínas à procura de peças de uma cidade destruída, à procura do encontro com o passado.
Como o arqueologista, o psicanalista às vezes encontra promissoras pistas, outras vezes decepcionantes; se ele continua aprofundando neste caminho nada vai garantir descobertas importantes; como o arqueologista ele tem que ter cuidado para não destruir o local das provas, tem que ter paciência e delicadeza; como o arqueologista tem que agir como um cientista guiado por construções técnicas, porém, abertas para possíveis revisões.
Toda disciplina científica está envolvida na pesquisa de fatos ou leis não conhecidas; para tornar visível o que é invisível, necessita de interpretação.
As evidências são fragmentárias, têm que trabalhar do presente para o passado, depois muda outra vez, agora do passado para o presente, o arqueologista reconstrói uma estátua e um templo, a partir de pequenos fragmentos e o psicanalista reconstrói a origem da neurose a partir de memórias distorcidas e involuntários deslizes.
O que é obscuro precisa e deve tornar-se claro, o que é latente precisa tornar-se manifesto”.
Freud, por esta época, virada do século, fez duas revolucionárias descobertas ao procurar interpretar os sonhos, principalmente os seus próprios sonhos:
Geralmente um sonho representa a realização de um desejo, porém, não quer dizer que conseguimos sonhar tudo o que desejamos e o desenvolvimento de um sonho evidencia a participação do inconsciente, pois durante o sono o consciente do individuo está indefeso e o que provavelmente provocou maior discórdia quando foi enunciado, o sonho, geralmente, expressa um desejo sexual.
Muitas vezes, dizia Freud, o sonho expressa uma idéia latente, cujos objetos visualizados, ou símbolos, que normalmente não têm nenhuma conotação sexual, precisam ser interpretados.
Alguns exemplos (símbolos) citados por Freud são interessantes de serem lembrados: sonhar com objetos penetrantes como espadas, espingardas, sombrinhas, cobras, pode simbolizar o pênis; por outro lado, objetos que sugerem receptáculos como caixas, bolsas, cavernas, podem simbolizar a vagina.
Ao interpretar seu próprio sonho ocorrido quando tinha oito anos de idade (entrou no quarto dos pais quando eles, provavelmente, estavam tendo relação sexual), Freud descreveu o Complexo de Édipo, cuja história pode ser resumida no desejo de incesto do filho com a mãe, acompanhado de ciúmes contra o próprio pai.
A rede Globo de televisão levou ao ar no final de 1987 a novela Mandala, que acabou provocando enorme polêmica, pois tratava de assuntos complicados (incesto, bissexualismo, repressão política, racismo e drogas).
O governo Sarney ainda mantinha resquícios da ditadura e, por conseqüência, a censura proibiu sua exibição, se não fossem feitos alguns reparos, o que de fato ocorreu.
No enredo da história, Jocasta (Vera Fischer) tem um romance com Laio (Perry Salles) e deste relacionamento nasce Édipo (Felipe Camargo), que é roubado logo ao nascer. Laio consulta um paranormal (Nuno Leal Maia) que, ao jogar búzios, chega à conclusão que no futuro, Édipo irá matar seu pai e terá um romance com a sua própria mãe.
A vida imita a arte, como diria Oscar Wilde; na vida real aconteceu, algum tempo depois, o casamento de Vera Fischer com Felipe Camargo, por sinal, um casamento tumultuado.
Precisaríamos de Freud para ajudar-nos a explicar este segundo tempo (brasileiro) do Complexo de Édipo.

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