VIENA NO TEMPO DE SIGMUND FREUD
No final do século XIX, inicio do século XX, a cidade de Viena, capital do Império Austro-Húngaro era considerada uma das melhores cidades, no que diz respeito ao padrão de vida, de toda a Europa; poucas capitais de países europeus viveram apogeu semelhante, tanto no que diz respeito à vida social, econômica, arquitetural e nas artes, principalmente a música e a literatura, para não se falar na medicina.
Viena experimentou, naquela virada de século, um crescimento populacional extraordinário, saindo de mais ou menos 700.000 habitantes em 1880 para 2.100.000 em 1910; era considerada o centro médico do mundo,; muitas técnicas cirúrgicas que ainda hoje utilizamos no nosso dia-a-dia profissional foram idealizadas naquela época, destacando-se, para não alongarmos nas exemplificações, a técnica proposta e realizada pelo cirurgião e professor de cirurgia da Universidade de Viena, Theodor Billroth, em 1872, para cirurgia de estômago.
Um outro cirurgião de nome Mikulicz, assistente de Billroth, quase que na mesma época, fez, pela primeira vez, uma ressecção do reto em um paciente portador de câncer e, Wertheim, também contemporâneo de Billroth na mesma Universidade, fez a primeira cirurgia radical para tratamento do câncer de útero.
No entanto, ao falarmos em medicina, não podemos, jamais, deixar de mencionar a figura de Sigmund Freud, esta miraculosa luz que nasceu para clarear a obscuridade e vencer os preconceitos entranhados na sociedade daquela época, inclusive da classe médica a que ele pertencia.
É sobre este homem que gostaria de discutir com os leitores; tentarei, dentro da exiguidade do espaço jornalístico que me é oferecido, mostrar a evolução da sua vida familiar e de pesquisador, suas decepções e sua determinação, sua cultura humanística e intelectual.
Cada etapa da sua vida é como se fora um capítulo de um livro que tento elaborar mentalmente, embora a maioria das ações se entrelace, o personagem principal, o homem Freud, pela sua avassaladora onipresença, me permitirá delinear o enredo em capítulos, sem que o leitor se perca no emaranhado dos acontecimentos.
Freud nasceu na Morávia, território pertencente ao Império Austro-Húngaro, no ano de 1856 e, quatro anos depois, sua família mudou-se para Viena, onde ele viveu até a idade de 78 anos, quando foi obrigado a exilar-se na Inglaterra, para fugir da perseguição nazista.
Embora pertencendo a uma família judia, sempre foi avesso a qualquer religião, chegando, inclusive, a tornar-se um ateísta, porém, nunca perdeu sua identidade judia.
Formou-se em medicina pela Universidade de Viena em 1881 e, durante todo o curso, dirigiu seus estudos para a neuro-histologia do cérebro; em 1882 foi admitido no Hospital Geral de Viena, quando ficou noivo de Martha Bernays, sua futura esposa.
Em abril de 1884 começou a estudar a droga cocaína, tendo feito, inclusive, experimentos nele mesmo para observar os seus efeitos “revigorantes”,; publicou estes resultados em uma monografia, hoje uma obra clássica da literatura médica.
Experimentou a droga, também, no seu grande amigo Dr. Marxow, que se já debatia com o vicio da morfina, devido a um tumor doloroso na mão; infelizmente, para Freud, este médico veio a se tornar um viciado na droga e ele foi acusado por isto, principalmente porque, a partir de 1886, o vicio no uso da cocaína já estava se tornando comum na população.
No final do ano de 1885 conseguiu uma bolsa de estudos para estagiar durante alguns meses no hospital Salpêtriére de Paris, onde trabalhava o já famoso psiquiatra Jean-Martin Charcot, considerado o maior neuropatologista da época.
Analisando a correspondência que Freud trocou, naquela época, com a noiva Martha, fica difícil saber o que mais o impressionava naquela figura, se a forte personalidade, perante a platéia de assistentes e de pacientes, sua genialidade ou o professor com poder de comunicação extraordinário.
”Oh! que maravilha isto vai ser. Voltarei para Viena para curar muitos casos incuráveis de pessoas nervosas e iremos casar – The letters of Sigmund Freud, Ed.E.L. Freud, N ova York, 1960”.
Charcot era o médico da sociedade parisiense da época,; ele tornou-se conhecido por tratar a Deus e todo mundo de uma afecção que se tornou “chic”ser portador, era a chamada “colite nervosa”; as madames da sociedade que não a possuíam, gostariam de possuí-la.
Naquela época da visita de Freud, talvez por isto mesmo, ele decidiu conhecê-lo; Charcot estava muito envolvido com os estudos de uma forma muito comum de neurose da época – a histeria e o seu tratamento por uma nova modalidade terapêutica proposta por ele - a hipnose.
Porém, ao voltar, a grande decepção: ao expor, em 15 de outubro de 1886, perante a Sociedade Médica de Viena, as novas idéias que aprendera com Charcot, enfrentou enorme rejeição ao proferir a conferência – Histeria no homem; chegou a ser vaiado, principalmente porque era um conceito praticamente inaceitável pelo mundo científico da época, uma vez que, como o nome está dizendo (hístero=útero), esta problemática deveria ser exclusiva do sexo feminino.
Como Freud enfrentou esta situação será assunto do próximo capítulo.
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