BAÚ LITERÁRIO

Tratam-se de textos ( resumos de ensaios) que são publicados a cada 15 dias no suplemento literário da Academia Goiana de Letras ( encarte do jornal Diário da Manhã de Goiânia)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

FREUD INICIA SUA VIDA PROFISSIONAL – III


As três principais cidades do Império Prussiano no final dos anos 1880 eram Viena, Praga e Budapeste e a ideologia política professada pelo Império Habsburgo era o capitalismo liberal que mostrava sinais evidentes de inicio de naufrágio, principalmente pela posição assumida pelo Prefeito de Viena, um dos líderes do Partido Social Democrata, Karl Lueger, um antissemita declarado, que elegeu os Judeus, um dos sustentáculos da economia da cidade, como “bodes expiatórios” da grande depressão que assolava o Império.
Na esteira destas dificuldades econômicas enfrentadas pela população de Viena no final do século XIX, os profissionais liberais, principalmente os que estavam iniciando suas atividades, como Freud era, sem dúvida, encontrar um local adequado para se instalar.
Embora a construção da Ringstrasse fosse uma tentativa de modernizar a vida Vienense, a estrutura arquitetônica da cidade ainda estava muito arraigada nos conceitos históricos do passado.
Uma destas concepções era a construção de edifícios que acomodassem tanto o local de trabalho (um consultório médico, por exemplo) como a casa residencial do profissional; uma das conseqüências desta “anarquia” habitacional era a dificuldade para o profissional conseguir divulgar o endereço do seu local de trabalho.
Ganhava corpo, por aquela época, as idéias de um arquiteto de nome Otto Wagner que propunha um novo ordenamento arquitetônico da cidade de Viena; dentre estas inovações estava, justamente, a separação da casa residencial do local de trabalho; em síntese, seriam construções diferentes para cada uma das finalidades, inclusive quanto ao estilo arquitetônico da construção. (Viena fin-de-siecle, Carl Schorske, Cia das Letras, 1988)
Freud conseguiu um local com esta nova concepção, estrategicamente localizada na Rathausstrasse, nas imediações da Universidade de Viena, onde abriu seu consultório, no final de 1886.
Apesar das suas grandes dificuldades econômicas e vivenciais, sua clientela foi aumentando gradativamente; durante três dias da semana trabalhava como neurologista, no Instituto de Pediatria, e nos outros dias dedicava-se à sua crescente clientela.
Algumas semanas após iniciar sua vida profissional propriamente dita casou-se com Martha, após um noivado de quatro anos e, logo em 1887, teve o primeiro dos seus seis filhos; aliás, é bom que se diga, todos nascidos em um período de sete anos.
Durante um ano e meio Freud continuou utilizando na sua clientela os métodos curativos tradicionalmente utilizados na época – eletroterapia, massagens e banheiras terapêuticas; os resultados não eram os que ele esperava quanto à cura dos pacientes, tornando-os dependentes da terapêutica.
Foi baseado nestes resultados que Freud passou a utilizar o que aprendera com Charcot em Paris, o Hipnotismo que, aliás, já estava alcançando alguma popularidade.
O médico Josef Breuer, famoso internista, possuidor de grande clientela em Viena, grande amigo de Freud, havia lhe passado a informação (1882) sobre um interessante caso de uma mulher de 21 anos de idade, com sintomas histéricos que ele estava cuidando por intermédio da hipnose, cuja descrição clínica (O caso Anna O), publicado pelos dois em um livro “Estudos sobre histeria” passou a ser um clássico da literatura psicanalítica mundial e, historicamente, reconhecido como o episódio que deu início à psicanálise.
Esta mulher, depois reconhecida como Bertha Pappenheim, quando hipnotizada, segundo Breuer, se lembrava de detalhes de quando os sintomas histéricos apareceram e, com a emoção da lembrança do que estava represado, os sintomas histéricos desapareciam; este fenômeno foi denominado por Breuer de “catarse”.
Freud passou, a partir daí, a usar esta técnica como método exclusivo de tratamento e concluiu, para espanto de Breuer, que o trauma original leva à formação de sintomas psiconeuróticos, quase sempre ligados ao sexo.
À medida que o tempo foi passando Freud passou a observar que alguns pacientes não poderiam ser hipnotizados e outros, quando hipnotizados, eram somente temporariamente curados e, após alguns dias após a sessão, voltavam a apresentar os mesmos sintomas; estas evidências levaram-no, gradativamente, a abandonar o hipnotismo.
A sugestão da hipnose somente aumenta a carga de elementos eróticos do paciente, pensava ele; a partir desta constatação, Freud passou a adotar outro método de tratamento que ele denominou de “técnica da pressão” ou da “concentração”: - quando ele pressionava sua mão ao encontro da cabeça do paciente e ao mesmo tempo fazia-lhe diversos questionamentos, as respostas eram analisadas dentro do contexto da história clínica que lhe foi narrada previamente. Foi este passo que deu inicio a atual psicanálise.
No próximo capítulo discutiremos os passos iniciais nesta nova ciência.



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