FREUD ENFRENTA A CIDADE DE VIENA - II
Quando a família de Freud (seus pais e seus irmãos) mudou-se em 1860 para Viena, capital da Monarquia Austro-Húngara, o Imperador Francisco José, pertencente à casa dos Habsburgo, governava o Império; Freud tinha, na época, quatro anos de idade.
A mudança foi devida a problemas financeiros (Jacob, seu pai, era comerciante de peles de animais) que enfrentavam em Freiberg, cuja população era constituída de 4.596 habitantes distribuída por 628 casas.
Por aquela época, no entanto, a situação econômica do Império e, por consequência, também de Viena, estava cada vez mais sufocante; havia, é verdade, o romantismo do rio Danúbio, a sensualidade das valsas de Strauss e o charme dos seus cafés, porém, havia a parte marginalizada e não muito visível da cidade: a pobreza, acarretada pelo desemprego, que se reunia em guetos e túneis por onde passavam as redes de esgotos.
Um outro fator complicador para a família Freud eram as atitudes francamente antissemitas de Karl Lueger, Prefeito de Viena; por outro lado, o Império experimentava um regime parlamentar, sob a liderança da Social Democracia, com apoio dos marxistas, com tentativas de instituir reformas sociais.
Durante o reinado de Francisco José, que, aliás, durou 68 anos, foi mantido um estado policial, com censura rigorosa e universal, sobrando pouco espaço para ideias inovadoras.
Para nos atermos apenas à área médica, citamos os episódios ocorridos com Freud e com Semmelweis; este médico descobriu que as unhas sujas das parteiras e dos obstetras, poderiam estar causando infecção fatal nas mães e nos recém-nascidos, porém, não conseguiu divulgar sua descoberta, impedido pela classe médica da época, com conceitos arraigados em outras teorias.
Com Freud aconteceu algo semelhante: estava tentando introduzir novas ideias sobre o comportamento do psiquismo, porém, sua divulgação foi violentamente obstruída naquela memorável sessão da Sociedade Médica de Viena, cujo auditório vaiou e agrediu-o com palavras, quando ele tentava expor sua teoria a respeito do diagnóstico de histeria em pacientes do sexo masculino, como vimos no Capítulo anterior.
De todas as manifestações daquele trágico dia, provavelmente o que mais o sensibilizou, negativamente, foi a de Meynert, chefe do serviço de Clínica Psiquiátrica, com quem ele trabalhou por quase meio ano e de quem se aproximou e que, inclusive, influenciou-o na decisão de se tornar um especialista em Doenças do Sistema Nervoso.
as suas palavras foram cruéis para um jovem ainda inseguro com as suas idéias, Encontre, disse ele, “um único caso de histeria em homem em Viena e volte a falar para a nossa Sociedade”.
Meynert foi mais longe, proibiu-o de frequentar o laboratório de anatomia do cérebro e escreveu um artigo médico violento contra ele e, o pior, seus colegas pararam de enviar-lhe pacientes, com medo que ele discutisse com os mesmos, suas “vidas sexuais”, mesmo depois que ele enfrentou o desafio do antigo chefe Meynert e levou, novamente para discussão perante a Sociedade Médica (abril de 1886), um caso bem documentado de histeria no homem, tendo sido, então, aplaudido de pé.
Freud passou a viver “isolado”; no entanto, por esta época ele fez uma das suas grandes descobertas: O Complexo de Édipo “Cada criança tem um complexo com os seus pais”. Inicialmente ele especificou, exclusivamente, o complexo para o lado masculino “O homem criança compete com o pai no amor à mãe; cada criança, em certo período, é um pequeno Édipo”.
Não é preciso dizer que este seu enunciado aumentou a indignação da classe médica da época, porém, é necessário que se afirme que ainda existem, atualmente, algumas restrições a este conceito, por parte de alguns especialistas.
Felizmente Freud contava com um ombro amigo onde repousar e descarregar suas frustrações e suas ansiedades que era sua noiva Martha Bernays, filha de uma eminente família judia da Alemanha, com quem mantinha uma constante correspondência epistolar:
“Quando olho para a foto de você tão jovem, isto certamente mostra o quanto você é bela, muito bela e agora a sua expressão espiritual ilumina toda sua face. Digo que nenhuma fotografia vai fazer-lhe justiça”.
Comparando estas palavras com uma foto de Martha da mesma época (Sigmund Freud – His life in pictures and Words; Andre Deustsch Limt., London, 1976), onde se pode observar uma jovem de rosto sereno, sobrancelhas, inicialmente grossas no seu ápice interno e que se afinam, gradativamente, à medida que se aproximam da extremidade externa, olhos serenos, lábios finos; cabelos esticados para trás, encimado, quase que no centro da cabeça, por um arranjo semelhante a um coque formado por suas tranças.
Aparentava uma colegial, uma linda colegial!
“... Antes de encontrá-la eu não conhecia a maravilha de viver e agora você é minha e para tê-la, só para mim, é uma condição que fiz na minha vida...”
Quase que na véspera da sua apresentação na Sociedade Médica, Freud, otimista, escreveu-lhe:
“... Terça-feira dei uma conferência no Clube de Fisiologia, sobre hipnotismo: fui muito bem e aplaudido, no curso das próximas três semanas ainda farei outra conferência sobre minhas experiências, em Paris, na Associação Médica. De modo que a batalha de Viena está a pleno vapor, e se você estivesse aqui eu lhe diria, com um beijo, que não abandonei a esperança de chamá-la minha esposa dentro de seis meses...” (Correspondência de amor – Ed. Ernst Freud, Ed. Nova Fronteira, 1960)
Logo depois deste acontecimento, conferência na Sociedade Médica, Freud abriu seu consultório particular na Rathausstrasse no. 7.
O que lhe aconteceu daí para frente será motivo de discussão no próximo capítulo.
A mudança foi devida a problemas financeiros (Jacob, seu pai, era comerciante de peles de animais) que enfrentavam em Freiberg, cuja população era constituída de 4.596 habitantes distribuída por 628 casas.
Por aquela época, no entanto, a situação econômica do Império e, por consequência, também de Viena, estava cada vez mais sufocante; havia, é verdade, o romantismo do rio Danúbio, a sensualidade das valsas de Strauss e o charme dos seus cafés, porém, havia a parte marginalizada e não muito visível da cidade: a pobreza, acarretada pelo desemprego, que se reunia em guetos e túneis por onde passavam as redes de esgotos.
Um outro fator complicador para a família Freud eram as atitudes francamente antissemitas de Karl Lueger, Prefeito de Viena; por outro lado, o Império experimentava um regime parlamentar, sob a liderança da Social Democracia, com apoio dos marxistas, com tentativas de instituir reformas sociais.
Durante o reinado de Francisco José, que, aliás, durou 68 anos, foi mantido um estado policial, com censura rigorosa e universal, sobrando pouco espaço para ideias inovadoras.
Para nos atermos apenas à área médica, citamos os episódios ocorridos com Freud e com Semmelweis; este médico descobriu que as unhas sujas das parteiras e dos obstetras, poderiam estar causando infecção fatal nas mães e nos recém-nascidos, porém, não conseguiu divulgar sua descoberta, impedido pela classe médica da época, com conceitos arraigados em outras teorias.
Com Freud aconteceu algo semelhante: estava tentando introduzir novas ideias sobre o comportamento do psiquismo, porém, sua divulgação foi violentamente obstruída naquela memorável sessão da Sociedade Médica de Viena, cujo auditório vaiou e agrediu-o com palavras, quando ele tentava expor sua teoria a respeito do diagnóstico de histeria em pacientes do sexo masculino, como vimos no Capítulo anterior.
De todas as manifestações daquele trágico dia, provavelmente o que mais o sensibilizou, negativamente, foi a de Meynert, chefe do serviço de Clínica Psiquiátrica, com quem ele trabalhou por quase meio ano e de quem se aproximou e que, inclusive, influenciou-o na decisão de se tornar um especialista em Doenças do Sistema Nervoso.
as suas palavras foram cruéis para um jovem ainda inseguro com as suas idéias, Encontre, disse ele, “um único caso de histeria em homem em Viena e volte a falar para a nossa Sociedade”.
Meynert foi mais longe, proibiu-o de frequentar o laboratório de anatomia do cérebro e escreveu um artigo médico violento contra ele e, o pior, seus colegas pararam de enviar-lhe pacientes, com medo que ele discutisse com os mesmos, suas “vidas sexuais”, mesmo depois que ele enfrentou o desafio do antigo chefe Meynert e levou, novamente para discussão perante a Sociedade Médica (abril de 1886), um caso bem documentado de histeria no homem, tendo sido, então, aplaudido de pé.
Freud passou a viver “isolado”; no entanto, por esta época ele fez uma das suas grandes descobertas: O Complexo de Édipo “Cada criança tem um complexo com os seus pais”. Inicialmente ele especificou, exclusivamente, o complexo para o lado masculino “O homem criança compete com o pai no amor à mãe; cada criança, em certo período, é um pequeno Édipo”.
Não é preciso dizer que este seu enunciado aumentou a indignação da classe médica da época, porém, é necessário que se afirme que ainda existem, atualmente, algumas restrições a este conceito, por parte de alguns especialistas.
Felizmente Freud contava com um ombro amigo onde repousar e descarregar suas frustrações e suas ansiedades que era sua noiva Martha Bernays, filha de uma eminente família judia da Alemanha, com quem mantinha uma constante correspondência epistolar:
“Quando olho para a foto de você tão jovem, isto certamente mostra o quanto você é bela, muito bela e agora a sua expressão espiritual ilumina toda sua face. Digo que nenhuma fotografia vai fazer-lhe justiça”.
Comparando estas palavras com uma foto de Martha da mesma época (Sigmund Freud – His life in pictures and Words; Andre Deustsch Limt., London, 1976), onde se pode observar uma jovem de rosto sereno, sobrancelhas, inicialmente grossas no seu ápice interno e que se afinam, gradativamente, à medida que se aproximam da extremidade externa, olhos serenos, lábios finos; cabelos esticados para trás, encimado, quase que no centro da cabeça, por um arranjo semelhante a um coque formado por suas tranças.
Aparentava uma colegial, uma linda colegial!
“... Antes de encontrá-la eu não conhecia a maravilha de viver e agora você é minha e para tê-la, só para mim, é uma condição que fiz na minha vida...”
Quase que na véspera da sua apresentação na Sociedade Médica, Freud, otimista, escreveu-lhe:
“... Terça-feira dei uma conferência no Clube de Fisiologia, sobre hipnotismo: fui muito bem e aplaudido, no curso das próximas três semanas ainda farei outra conferência sobre minhas experiências, em Paris, na Associação Médica. De modo que a batalha de Viena está a pleno vapor, e se você estivesse aqui eu lhe diria, com um beijo, que não abandonei a esperança de chamá-la minha esposa dentro de seis meses...” (Correspondência de amor – Ed. Ernst Freud, Ed. Nova Fronteira, 1960)
Logo depois deste acontecimento, conferência na Sociedade Médica, Freud abriu seu consultório particular na Rathausstrasse no. 7.
O que lhe aconteceu daí para frente será motivo de discussão no próximo capítulo.
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