BAÚ LITERÁRIO

Tratam-se de textos ( resumos de ensaios) que são publicados a cada 15 dias no suplemento literário da Academia Goiana de Letras ( encarte do jornal Diário da Manhã de Goiânia)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Prof. Baltazar dos Reis

O Professor Baltazar dos Reis nasceu em Santa Luzia (Luziânia) no ano de 1901 e morreu em 1976 na cidade de Brasília; deixou seu nome gravado na literatura goiana pela sua extraordinária verve poética.
Após se aposentar, em 1960, como professor do Estado de Goiás, mudou-se para Brasília, passando a se dedicar, praticamente, somente à literatura, principalmente à poesia.
O Professor Baltazar dominava, como poucos, a Língua Portuguesa e o Latim (traduziu “A morte de Lucrecia” de Ovídio), tendo sido, inclusive, emérito professor destas matérias em Anápolis e Goiânia sem, sequer, ter concluído o curso primário.
Ajudou seu irmão Gelmires Reis, ex-membro da Academia Goiana de Letras a publicar a revista “Planalto” (janeiro 1937 a dezembro de 1937), sendo que os primeiros exemplares foram redigidos manualmente.
Sua obra poética é constituída de duas fases: poesias folclóricas e poemas bíblicos; algumas das suas produções ficaram registradas no livro “Poeira da Minha Estrada”, obra póstuma, publicada em 1977.
Pouca coisa ficou registrada da sua prosa, o que é uma pena para as Letras Goianas; conseguimos “descobrir”, entre os seus guardados, cópia de uma conferência que ele proferiu em 1972, no Clube Recreativo e Cultural da cidade de Luziânia, durante a semana comemorativa do cinquentenário de falecimento do deputado, prosador e poeta Evangelino Meireles, fundador do “Almanaque de Santa Luzia”.
Selecionamos um pequeno trecho desta conferência; a intenção é destacar o seu valor literário; ao lê-lo, parece que somos transportados para o ambiente que o autor descreve; quase que atravessamos o rio na companhia dos personagens. Os fatos da narrativa ocorreram na década de 1910.

“Não obstante estar ligada ao mundo pelo telégrafo, Santa Luzia daquele tempo era isolada da civilização pelo rio Corumbá.
O cruzamento dele se fazia em rústicas e perigosas canoas cavadas em tronco de árvores. Chegando à praia do porto, o viajante desarreava o animal, embarcava na ubá com os arreios, a alimária, atirada na água, era mantida com o focinho em seco pelo dono, que segurava o pé da cabeçada, enquanto Firmino, ou Lourenço, manejava o remo e o varejão, o madeiro rasgava a torrente das águas, a cavalgadura assoprando rente à embarcação, que oscilava para um lado, e outro, e o herói da aventura sertaneja chegava à outra margem entoando no íntimo um Te Deum em ação de graças por não ter sido aquela a última experiência de viver perigosamente.
E os caixeiros viajantes, com suas tropas de 12 burros carregados com canastras de mostruários, barracas, dormitórios e cozinha? E os carros de bois, de 10 juntas, passados em duas canoas paralelas, uma para cada roda, presas entre si por varas amarradas? Passar o carro, a carga, os arreios e finalmente os bois, alguns dos quais, às vezes, eram tocados pela correnteza, oferecendo ao espectador a cena arrepiante de uma vaquejada sobre as águas para recapturá-lo...
Depois carregar o carro, cangar os bois e reiniciar a marcha, acalentada pelo rechinar musicado e monótono do carro, ladeira acima, medindo meios passos a extensão intérmina dos chapadões. Era preciso muita vida para tanta paciência.
Esta digressão, que parece fora de propósito, se justifica pela necessidade de integrar o homem dentro do seu meio, crivado de necessidades gritantes, a pedir soluções imediatas.”

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